segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Com 7 episódios já emitidos nos Estados Unidos, os quais já tive oportunidade de ver, creio conseguir alinhavar umas quantas frases sobre Flash Forward, a super produção que a cadeia ABC está a publicitar como o substituto de Lost (que, como se sabe, tem final agendado para a próxima temporada a começar em Fevereiro 2010 no mesmo canal).

Tal como em Lost, Flash Forward teve um episódio piloto de grande orçamento, com muitas explosões, acção a rodos, e um cataclismo que despoleta a trama da série: toda a população mundial sofre um blackout de um par de minutos, no qual são confrontados com as suas próprias vidas dentro de seis meses. A premissa é interessante, cheia de potencial para escrevinhar umas ideias de ficção com qualidade. Exemplo disso é o flash forward conjunto que muitas personagens simplesmente não tiveram, indicando a probabilidade de nessa data estarem mortas.
O elenco prometia, com Joseph Fiennes à cabeça (Shakespeare in Love, Enemy at The Gates), seguido de outros nomes também do cinema (John Cho, o novo Sulu de Star Trek ou Dominic Monaghan, um dos hobbits de Lord Of The Rings, que já pertenceu ao elenco de Lost) e algumas caras reincidentes do universo televisivo, como a voluptuosa Sonya Walger (excelente em The Mind of The Married Man, Tell Me You Love Me ou em Lost).
Mas a verdade é que desde o primeiro dia se nota alguma desilusão. Não só de minha parte, mas da comunidade em geral que acompanha estes fenómenos televisivos.
A história de Flash Forward tem sofrido mudanças e fios narrativos inconsistentes ou simplesmente ridículos. A ideia de montar uma teia de pistas tornou-se uma obsessão tão grande dos argumentistas, que em muitos momentos ficamos com tramas que ou não levam a lado nenhum ou são empurradas de forma extremamente básica. O episódio 5 é sintomático. Toda a equipa que investiga o caso (porquê tanta gente??) vai a Washington para apresentar o seu ponto de vista sobre o fenómeno ocorrido, e dessa forma continuar a recolher fundos para aprofundar os indícios recolhidos até então (alguns de forma patética e infundada). Deixamos de ter uma trama localizada (em LA), e assistimos a uma equipa confusa, de reacções adversas e pouco justificadas, que a espaços se assemelha a um grupo de alunos de escola secundária em excursão pela primeira vez à capital, acompanhados do seu professor inseguro (o chefe do departamento).
Mas como se isto não bastasse, há um problema bastante mais grave: Joseph Fiennes. O actor, irmão do grande (na minha opinião) Ralph Fiennes, mostra aqui que efectivamente lhe falta muitos genes para ser levado a sério. Não só não consegue aguentar o peso de ser o actor referência, como é "acossado" por uma maleita que lhe afecta a fala, produzindo um sotaque americano degradante para os seus contemporâneos britânicos. Uma voz em tudo falsa, que lhe tira qualquer credibilidade. Porque diabos não manteve o seu sotaque original?
John Cho, por seu lado, é outro erro de casting tremendo. Actor mais habituado a comédias estapafúrdias (os dois títulos "Harold and Kumar", por exemplo), conseguiu o lugar de Sulu pela sua etnia, e até conseguiu um bom registo, devidamente embebido num Star Trek de proporções gigantescas que facilmente o consegue transformar numa bonita peça decorativa, sem grandes esforços de representação. Mas nesta série pedia-se ao actor um maior élan, aspecto que demonstrou não possuir.
Vou continuar a ver a série, claro. Nunca se sabe como as coisas evoluem. Lembro-me que Fringe foi uma confusão do tamanho de Heroes nos primeiros episódios, mas depois lá conseguiu encarrilhar num registo curioso, mais parecido com o fulgor de J.J. Abrams. Mas para já, receio que isto venha a descambar numa daquelas séries em que ficamos sem saber os porquês, após um cancelamento precoce.

Editado a 20 de Novembro de 2009

Imagem "recortada" do site tv.com, sem autoria revelada na origem

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