sábado, 28 de novembro de 2009

Leio na Time Out que a mega loja da H&M no Chiado foi eleita pela revista a melhor da década a instalar-se em Lisboa. Não podia estar mais em desacordo. Não só estamos a falar de uma cadeia multinacional sueca (e há tanto comércio tradicional que a própria Time Out costuma festejar e que merecia melhor sorte nesta obtusa votação), como a H&M em especial, em conjunto com a Zara, tem um problema que eu considero de extrema gravidade: não há tamanhos para pessoas XXL. Como é que sei? Desde há uns 5 anos para cá eu próprio me transformei numa dessas massas disformes de pneu mórbido, que até gostava de comprar qualquer coisita naquela loja (os trapos que lá vendem são giros, sim senhor). Mas não posso, porque sempre que lá vou e encontro qualquer coisa que me agrada bato com o nariz na porta que diz "maior que XL não temos".
Questiono-me, tendo em conta o internacionalmente conhecido peso excessivo do comum americano, o que farão estes senhores na loja de Nova Iorque. Vendem tamanhos maiores que nas lojas europeias (sim... já tentei em H&M's de outros países do velho continente)? Se assim é, porque raio não posso comprar esses tamanhos aqui? É uma descriminação social terrível, esta do peso excessivo. E estes tipos não ajudam nada. Um ponto negativo para a Time Out, que tanto estimo como publicação de referência no espectro cultural e de entretenimento da "minha" capital.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Hoje recebi um e-mail de um amigo, que sei que o fez por preocupação e porque o tema está na ordem do dia. Associado ao mesmo, vinha um texto em que se apresenta uma senhora como ex-ministra da saúde finlandesa, e um link para este vídeo no YouTube:

Estive prestes a responder ao mail com CC para todos os intervenientes, mas como não quero alimentar mais este tipo de correio em cadeia, deixo aqui a resposta integral para todos:

Antes de fazerem forward de mails destes, informem-se bem das fontes. É com coisas destas que se formam opiniões extrapoladas sobre assuntos que assustam precisamente por causa
deste tipo de correio que alguns criam e reciclam em cadeia, como os famosos mails piramidais do "envia três, porque se não o fizeres vai crescer-te uma verruga gigante no rego do cú).

Esta senhora não é, nem nunca foi ministra da saúde da Finlândia. Uma pesquisa rápida pela net (até na wikipedia, que nem sempre é de fiar) revela-vos que a senhora em questão é famosa no seu país pelo avistamento de OVNIS (diz que foi salva por uns quando sofreu um acidente de carro), e gosta de se auto-proclamar a "Chefe Administrativa da Saúde" da Finlândia. Todos os temas que ela trata são dignos de figurar num "National Enquirer" ou, para ser mais português, num "24 Horas" ou num jornal "O Diabo". São exemplos o "controlo de mente por microchip", "implantes cerebrais", "assassinos zombies" e "raptos por ET's" (sic).

http://en.wikipedia.org/wiki/Rauni-Leena_Luukanen-Kilde
Página oficial do ministério da saúde finlandês: http://www.stm.fi/en/frontpage
http://www.ufo.se/english/articles/scandal.html

Não digo que estes mails não sejam enviados de bom coração, e com a maior das amizades. Mas a pessoas como eu, que neste momento estou prestes a ser pai, revoltam-me. Revoltam-me porque estou mais informado que o normal, vou a consultas com os médicos que acompanham a minha mulher, alguns com opiniões divergentes, mas que não lançam disparates destes para o ar, à espera que as pessoas de repente deixem de tomar uma vacina que pode salvar uma vida emergente e frágil no combate a uma gripe que, não sendo o bicho de sete cabeças que os Media criaram, também não é pêra-doce para um recém-nascido ou um feto em formação.
A minha mulher vai tomar a vacina. Porque ambos aprendemos estatística na faculdade, e sabemos que os casos que têm aparecido na comunicação social são excepções que não confirmam a regra. É o mesmo que dizer que um bebé morreu porque no dia anterior tinha sido submetido a ondas nocivas num TAC.


Espero ter deixado bem clara a minha opinião sobre o tema.

Se houvesse dúvidas sobre a qualidade de "Fringe", esta segunda temporada, emitida actualmente nos Estados Unidos, veio de certa forma dissipá-las. JJ Abrams apostou forte na sua produção, que no ano passado provocou forte impacto e expectativa no panorama de ficção televisiva americano.
O problema é que "Fringe" começou mal. Apesar do episódio piloto de grande orçamento muito vistoso, os argumentistas "descarrilaram" e criaram uma teia de enredos digna dos "X-Files" mais manhosos das últimas temporadas, ou seja pelos bons mas também pelos maus motivos.
Tal como acontece com "Flash Forward", o equilíbrio entre a história e os inúmeros enigmas e enredos de continuidade é altamente deficitário. O espectador agradece que lhe forneçam intrigas e mistérios, mas em doses "legíveis". "Fringe" baralhou as cartas de tal forma, que o acidente esteve prestes a acontecer, com audiências fracas e votações on-line abaixo das expectativas. No entanto, a equipa de Abrams soube dar a volta à questão, e pouco a pouco o argumento solidificou-se num fio narrativo ainda mais fantasioso que X-Files, onde o véu foi propositadamente levantado mais cedo que o previsto para não defraudar as audiências. E resultou. A "season finale" da temporada 1 valeu toda a paciência daqueles que ainda acreditaram num bom envesamento das coisas.
"Fringe" é actualmente a melhor série de ficção científica proveniente do espectro televisivo americano. Com "Battlestar Galactica" terminada e "V" a revelar-se um enorme flop, tem todas as condições para se tornar um culto de tanta longevidade como as aventuras de Mulder e Scully contra os ET's. Assim espero, porque quero saber se Leonard Nimoy irá aparecer mais vezes, como irá terminar a guerra entre os mundos paralelos, quais os segredos obscuros que Walter Bishop guarda (personagem brilhantemente interpretada por John Noble) e que raio são os observadores, aquela raça de seres carecas e vestidos como caixeiros-viajantes dos anos 60.

Editado a 30 de Dezembro de 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Estou completamente enamorada desta música:




Morrisey, "Dear God Please Help Me", do álbum "Ringleader of The Tormentors". O vídeo é uma criação do utilizador do YouTube, visto que o tema ainda não tem videoclip oficial.
Espero que o senhor Morrisey melhore das suas recentes intempéries...
Perguntaram-me se edito os meus posts antigos. Sim. Diversas vezes (o primeiro de todos é um bom caso, porque é onde vou juntando uma lista das minhas músicas preferidas de sempre). É mais um tique perfeccionista que um defeito. De qualquer forma, peço desculpa aos (poucos) que me lêem e se possam sentir defraudados com esse aspecto.
Dou um exemplo: dia 9 de Novembro escrevi sobre a série "Flash Foward", mas não gostei da forma pouco ágil e infantil com que tentei vender a pouca coerência da trama. Editei, e provavelmente editarei mais vezes, se com isso me sentir satisfeito. Como benesse vou passar a deixar uma nota a destacar o facto de ter editado aquele texto, ok?

sexta-feira, 13 de novembro de 2009


No Jimmy Fallon Late Night Show (senhor que ainda não me conseguiu convencer) emitido ontem à noite na SIC Radical, esteve presente, no final, uma das maiores surpresas musicais dos últimos tempos. Pelo menos para mim! Não só pela música, pop refrescante e a fazer recordar Jamiroquai, como também pela invulgar presença em palco de Sean Tillman, um senhor baixinho, rechonchudo, cabelo longo mas de entradas generosas na fronte, roupa psicadélica, estilo que o localiza num mau filme porno dos anos 70.
Aliás, segundo leio na Wikipedia, Sean Tillman é muitas vezes comparado ao actor porno Ron Jeremy.
Que o senhor tem um carisma muito especial, lá isso tem. Basta vê-lo dançar no programa de Jimmy Fallon. A acompanhar com muita atenção. Para já, vou ver se consigo encontrar o novo album, quarto da sua carreira, "Dark Touches" [Editado a 14/11/2009 - Já comprei online, no site oficial, a versão em mp3, que descarrega imediatamente para o PC. Disponibilizam para envio uma edição em vinil cor-de-rosa!!].

Site Oficial

O link do vídeo está aqui, mas sendo um site alojado nos States, não sei se vão conseguir vê-lo. Eu não consegui. Raios! Tenho de arranjar uma dessas ferramentas que salta os proxys em busca de um IP que engane os servidores de streaming americanos.
Após percorrer foruns pela net, grupos de discussão, críticas em sites da especialidade, lá acabei por me decidir: HTC Hero. É este pequeno bicho o meu novo companheiro da orelha. Por mais bonito (e é) que seja o iPhone, por mais diversidade de smartphones com Windows Mobile, tenho fé que o Android vai mesmo ser o formato do futuro.
Além disso, a Google está para a internet como a Apple para o hardware: simples e bonito, com uma invulgar sensibilidade para o design e o amor à primeira vista, com consumidores hipnotizados sem necessitar de grandes campanhas ou marketing feroz.
E se o HTC não é tão agradável ao olhar como o iPhone, também não lhe fica muito atrás. Ora vejamos:

Então? É ou não é bonito? E não me venham com mariquices por causa do "queixo" do aparelho, de que tenho lido barbaridades. Aquela pequena inclinação protege não só a trackball (como nenhum outro), mas também o ecrã, quando temos, por exemplo, uma carteira e o telemóvel colados um ao outro na mão.
Por isso, bem vindo, pequeno Hero. Espero que te aguentes nas minhas mãos pelo menos o mesmo tempo que o teu antecessor, velho e completamente ultrapassado no software, o Motorola V3. RIP.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Com 7 episódios já emitidos nos Estados Unidos, os quais já tive oportunidade de ver, creio conseguir alinhavar umas quantas frases sobre Flash Forward, a super produção que a cadeia ABC está a publicitar como o substituto de Lost (que, como se sabe, tem final agendado para a próxima temporada a começar em Fevereiro 2010 no mesmo canal).

Tal como em Lost, Flash Forward teve um episódio piloto de grande orçamento, com muitas explosões, acção a rodos, e um cataclismo que despoleta a trama da série: toda a população mundial sofre um blackout de um par de minutos, no qual são confrontados com as suas próprias vidas dentro de seis meses. A premissa é interessante, cheia de potencial para escrevinhar umas ideias de ficção com qualidade. Exemplo disso é o flash forward conjunto que muitas personagens simplesmente não tiveram, indicando a probabilidade de nessa data estarem mortas.
O elenco prometia, com Joseph Fiennes à cabeça (Shakespeare in Love, Enemy at The Gates), seguido de outros nomes também do cinema (John Cho, o novo Sulu de Star Trek ou Dominic Monaghan, um dos hobbits de Lord Of The Rings, que já pertenceu ao elenco de Lost) e algumas caras reincidentes do universo televisivo, como a voluptuosa Sonya Walger (excelente em The Mind of The Married Man, Tell Me You Love Me ou em Lost).
Mas a verdade é que desde o primeiro dia se nota alguma desilusão. Não só de minha parte, mas da comunidade em geral que acompanha estes fenómenos televisivos.
A história de Flash Forward tem sofrido mudanças e fios narrativos inconsistentes ou simplesmente ridículos. A ideia de montar uma teia de pistas tornou-se uma obsessão tão grande dos argumentistas, que em muitos momentos ficamos com tramas que ou não levam a lado nenhum ou são empurradas de forma extremamente básica. O episódio 5 é sintomático. Toda a equipa que investiga o caso (porquê tanta gente??) vai a Washington para apresentar o seu ponto de vista sobre o fenómeno ocorrido, e dessa forma continuar a recolher fundos para aprofundar os indícios recolhidos até então (alguns de forma patética e infundada). Deixamos de ter uma trama localizada (em LA), e assistimos a uma equipa confusa, de reacções adversas e pouco justificadas, que a espaços se assemelha a um grupo de alunos de escola secundária em excursão pela primeira vez à capital, acompanhados do seu professor inseguro (o chefe do departamento).
Mas como se isto não bastasse, há um problema bastante mais grave: Joseph Fiennes. O actor, irmão do grande (na minha opinião) Ralph Fiennes, mostra aqui que efectivamente lhe falta muitos genes para ser levado a sério. Não só não consegue aguentar o peso de ser o actor referência, como é "acossado" por uma maleita que lhe afecta a fala, produzindo um sotaque americano degradante para os seus contemporâneos britânicos. Uma voz em tudo falsa, que lhe tira qualquer credibilidade. Porque diabos não manteve o seu sotaque original?
John Cho, por seu lado, é outro erro de casting tremendo. Actor mais habituado a comédias estapafúrdias (os dois títulos "Harold and Kumar", por exemplo), conseguiu o lugar de Sulu pela sua etnia, e até conseguiu um bom registo, devidamente embebido num Star Trek de proporções gigantescas que facilmente o consegue transformar numa bonita peça decorativa, sem grandes esforços de representação. Mas nesta série pedia-se ao actor um maior élan, aspecto que demonstrou não possuir.
Vou continuar a ver a série, claro. Nunca se sabe como as coisas evoluem. Lembro-me que Fringe foi uma confusão do tamanho de Heroes nos primeiros episódios, mas depois lá conseguiu encarrilhar num registo curioso, mais parecido com o fulgor de J.J. Abrams. Mas para já, receio que isto venha a descambar numa daquelas séries em que ficamos sem saber os porquês, após um cancelamento precoce.

Editado a 20 de Novembro de 2009

Imagem "recortada" do site tv.com, sem autoria revelada na origem

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Estava aqui a navegar nos outros blogs que já mantive, e encontrei este post, que embora desactualizado, apresenta de forma bastante completa uma das personagens que mais respeito me transmite no actual panorama televisivo mundial:


A SIC Radical decidiu há muito deixar de transmitir o excelente "Daily Show" de Jon Stewart. O programa, misto de talk-show com notícias falsas e/ou trabalhadas com uma ironia mordaz, revolucionou o modo de ver a actualidade noticiosa americana. Segundo li há pouco tempo, o canal de Carnaxide já voltou a comprar novos episódios para breve [comprou-os e transmite-os actualmente não só na SIC-R como também na SIC-N]. Espero que sim (embora não me afecte especialmente, porque prefiro descarregar os programas mais recentes da net).
E já que o vão fazer, poderiam também dar uma espreitadela ao "Stephen Colbert Report", a produção que a Comedy Central transmite logo a seguir ao "Daily Show". Colbert já foi um dos elementos da equipa de Jon Stewart, mas o seu destaque foi tanto que o mérito de um programa só seu é indiscutível. Para quem não conhece, nada melhor que navegar pela internet e dar uma vista de olhos aos "estragos" que este senhor fez no recente baile anual dos correspondentes da Casa Branca em Washington. Os risos do presidente [em 2006] Bush duraram só até Colbert se referir às "situações encenadas" como a proclamação de vitória americana no Iraque, em cima de um porta-aviões, ou na mais recente visita populista e demagógica à cidade de Nova Orleães.
Podem ler o discurso de Colbert, em frente a todos aqueles jornalistas a que chamou de palhaços e "freaks", aqui. Tomo a liberdade de seleccionar alguns dos melhores momentos, para mais tarde recordar:
(...)
I believe democracy is our greatest export. At least until China figures out a way to stamp it out of plastic for three cents a unit.
(...)
I believe that everyone has the right to their own religion, be you Hindu, Jewish or Muslim. I believe there are infinite paths to accepting Jesus Christ as your personal savior.
(...)
I stand by this man [presidente Bush]. I stand by this man because he stands for things. Not only for things, he stands on things. Things like aircraft carriers and rubble and recently flooded city squares. And that sends a strong message: that no matter what happens to America, she will always rebound -- with the most powerfully staged photo ops in the world.
(...)
This president has a very forward-thinking energy policy. Why do you think he's down on the ranch cutting that brush all the time? He's trying to create an alternative energy source. By 2008 we will have a mesquite-powered car!
(...)
As excited as I am to be here with the president, I am appalled to be surrounded by the liberal media that is destroying America, with the exception of Fox News. Fox News gives you both sides of every story: the president's side, and the vice president's side.
(...)
Here's how it works: the president makes decisions. He's the decider. The press secretary announces those decisions, and you people of the press type those decisions down. Make, announce, type. Just put 'em through a spell check and go home. Get to know your family again. Make love to your wife. Write that novel you got kicking around in your head. You know, the one about the intrepid Washington reporter with the courage to stand up to the administration. You know - fiction!
(...)
Jesse Jackson is here, the Reverend. Haven't heard from the Reverend in a little while. I had him on the show. Very interesting and challenging interview. You can ask him anything, but he's going to say what he wants, at the pace that he wants. It's like boxing a glacier. Enjoy that metaphor, by the way, because your grandchildren will have no idea what a glacier is.
(...)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Se vivesse nos Estados Unidos, estaria certamente mais vezes de acordo com as ideias do partido democrata do que o conservadorismo republicano.
Feito este disclaimer, há que saber tirar o chapéu a pessoas do outro lado da barricada, especialmente quando estas estiveram até agora tão certas nas suas opiniões públicas. Refiro-me a Peter Schiff, um economista e corretor da bolsa, senhor que participa com regularidade em tudo o que são fóruns sobre economia nas televisões americanas. Schiff preveu em 2006 e 2007, com arrepiante pormenor, a crise que se avizinhava, e foi inúmeras vezes gozado e ridularizado por isso:


Fonte do vídeo: Blog do Paulo Querido.

É interessante ouvi-lo falar, já em 2009, no programa "Daily Show" de Jon Stewart. Embora republicano convicto, Schiff mantém a sua linha opinativa sobre o futuro da economia, e o que está para vir não é nada animador. Esperemos que se engane em relação a Obama. Mas que o homem é bruxo... lá isso é.
Para se manterem a par das opiniões deste senhor, podem acompanhar por exemplo este blog.

domingo, 1 de novembro de 2009

Acabo de ver as extenuantes 3 horas e 16 minutos de documentário sobre a produção de "Gladiador", a "pérola" de Ridley Scott aos olhos da Academia americana (tendo em conta o número de Oscars que venceu). É irónico que, mesmo que esta edição em Blue-Ray contenha a versão longa do filme, com múltiplas novas cenas introduzidas, o documentário consegue ser ainda maior.

Mas é precisamente nas inúmeras expressões eufemísticas lançadas aqui e ali por produtores, argumentistas, realizador e actores no decorrer do documentário, que nos apercebemos da gigantesca confusão que terá sido o processo de criação do argumento.
Se em "Blade Runner" a coisa correu bem (também existiram inúmeros conflitos ao longo de anos até se assentar num argumento que levasse a luz verde para ser filmado), em "Gladiator", na minha opinião, a coisa descambou num filme pastoso, previsível, e que ganhou um Oscar de melhor filme apenas pela "frescura" que foi o regresso das fitas de sandália, há muito esquecidas por Hollywood e pelos espectadores.
Como grande apreciador da visão de Ridley Scott, tendo a ser muito crítico para com os seus desastres. E este, para mim, foi um deles.

Ainda na sexta-feira regressava do trabalho a caminho de casa, ouvindo no carro, como todos os dias, a Radar FM. E com ela a voz mais cavernosa, gutural, confiante e calma de todo o espectro radiofónico (atrevo-me a dizer mundial).
António Sérgio nasceu com um dom. Aquele timbre de voz era raro, digno de um senhor "voz de bagaço". Transmitia ao ouvinte sensações de confiança e segurança imbatíveis. Foi através de António Sérgio que me inspirei nos meus anos adolescentes de rádio local em Castelo Branco. Foi com ele que descobri inúmeros discos, incontáveis bandas e estilos sonoros de todo o mundo (ainda o ano passado o António elegeu como um dos albuns do ano "Stay Positive", dos Hold Steady, que em Portugal passou despercebido e é para mim um dos albuns da década). António Sérgio era o John Peel português, mas que em nada ficava a dever a essa outra lenda da rádio também já falecida.
Acabo de ler a notícia da sua morte no Público, e sinto agora um vazio tremendo e uma tristeza profunda. Lamento, acima de tudo, nunca ter tido a oportunidade de conhecer o António Sérgio, e assim poder agradecer-lhe toda a educação que ele me proporcionou ao longo das últimas 3 décadas.
Se do alto do teu merecido pedestal no Além me consegues ler, António, o meu gigantesco bem-haja por seres quem eras e por tudo o que me ensinaste.

Fotografia virtualmente recortada da versão on-line do jornal Público. Autoria de Miguel Madeira.