sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sobre a saga Millennium de Stieg Larsson

Tal como fiz com o primeiro volume, "Os Homens que Odeiam as Mulheres", acabo de ler "A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo" e vi o filme logo de seguida. Infelizmente, tenho de reafirmar (ainda com mais convicção) o que dissera antes no Facebook.
Ambos os filmes carecem de uma gritante falta de profundidade em todas as personagens, excepto Lisbeth Salander, magistralmente transportada para o ecrã por Noomi Rapace. O problema é que todas as outras figuras são muito fracas (Blomqvist incluído). Alguns chegam mesmo a ser caricaturas do que lemos nos livros. Armanskij, Bublanski, Svensson, Harriet Vanger e Cecilia Vanger, para listar alguns, são meros esquissos que têm uma importância demasiado grande para merecerem um tratamento tão superficial.
Neste segundo filme, dou como um péssimo exemplo o combate entre o pugilista Paolo Roberto e o misterioso gigante loiro, que além de mal coreografado e caracterizado, é inverosímil e não alcança nem um décimo da violência do livro (além de ter um desfecho diferente, o que até seria secundário).
O segundo filme consegue o triste fado de ser ainda pior que o primeiro, mas o segundo livro é, na minha opinião, muito melhor que o primeiro. Esta contradição é prova suficiente de que as coisas não correram nada bem nestas transposições para filme de uma trilogia que merece mais tempo de duração (três horas por filme, no mínimo), melhores actores (o gigante loiro parece saído de um episódio do velhinho Duarte & Companhia), melhores realizadores (em especial na mise-en-scéne), uma produção mais profissional, e uma adaptação mais interessante e pragmática da narrativa. Não se compreende que uma saga chamada "Millennium", em que uma revista de denúncia social é uma das personagens centrais, raramente tenhamos oportunidade de respirar a redacção da mesma e os seus meandros. Não acredito que Stieg Larsson, ele próprio jornalista, gostasse muito destas adaptações, independentemente do factor Noomi ou da etiqueta "made in Sweden".
Repito: não sou apologista de remakes passado tão pouco tempo desde a estreia dos originais, mas estes filmes suecos não fazem justiça aos livros. Longe disso. Desta vez, aguardo ansiosamente pelo que David Fincher nos reserva na sua adaptação americana. Pior que isto, nas mãos dele, não me parece que seja possível. Espero não estar enganado...

Os Homens que Odeiam as Mulheres - 7/10
A Rapariga que Sonhava com Uma Lata de Gasolina e um Fósforo - 5/10
(Quando terminar o terceiro volume volto a editar este post)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Eis alguns apontamentos sobre o ano de 2010 em relação a séries de televisão. Dispenso o mercado português, apesar de deixar uma menção honrosa para "Noite Sangrenta", da RTP.

Melhores do ano:

Boardwalk Empire (1ª temporada)
Martin Scorsese. Steve Buscemi. Terence Winter (The Sopranos). A história, passada na era da proibição (de bebidas alcoólicas) nos Estados Unidos, é um misto de ficção e eventos (e personagens) reais. Um conjunto de interpretações brilhantes e um set construído de raíz para retratar a romântica e perversa Atlantic City nas décadas de 20 e 30 do século passado. Boardwalk Empire tem tudo para fazer história em televisão. Os mais críticos dizem que mimetiza em demasia os Sopranos. E desde quando é que isso é uma coisa má?

Treme (1ª temporada)
Este foi sem dúvida o ano do ressurgimento das grandes séries no canal HBO, depois da orfandade provocada pelo final dos Sopranos e Sex and The City.
Treme é assinada por David Simon, genial criador de outra grande produção HBO, The Wire, poesia pura e triste à cidade de Baltimore, que durou cinco temporadas.
Tendo como cenário Nova Orleães, um ano após o Katrina, Treme revela a riqueza cultural de uma das cidades mais interessantes dos Estados Unidos, berço do jazz, e os problemas sociais provocados pelo furacão. No elenco estão alguns dos elementos que compunham The Wire, de que destaco Wendell Pierce, numa interpretação magnífica. As audiências não foram as melhores, mas a HBO já tinha comprado uma segunda temporada. Graças a Deus!

Dexter (5ª temporada)
Dexter caminhava para zonas demasiado ambíguas quando a personagem interpretada por Michael C.Hall se casou e teve um filho. Cheguei a temer o cansaço natural de uma produção que já atingiu a maturidade. Mas depois do monumental final da temporada passada, a quinta época só podia dar lugar a uma história com mais Dexter e menos telenovela. Foi o que aconteceu, e alguns dos episódios são dos melhores que já vi em Dexter desde o seu princípio. De destacar também os convidados, Julia Stiles e Johnny Lee Miller. Venha a sexta época!

Blue Bloods (1ª temporada)
Uma agradável surpresa. É mais uma série de polícias em Nova Iorque, sim. Tem imensos clichés, os mesmos procedimentos criminais que já vimos em tantas outras séries. Mas o elenco e a narrativa com qualidade (fechada por episódio, embora com algumas tramas que continuam ao longo da temporada) prometem uma vida longa para uma série que despertou das cinzas o actor Tom Selleck, e deu um papel de relevo a Donnie Wahlberg, irmão de Mark.

The Walking Dead (1ª temporada)
Embora só tenha merecido uns meros 6 episódios na sua temporada de estreia (que nem sequer abarcam o primeiro volume da respectiva banda desenhada em que se baseia), The Walking Dead mostrou logo no seu primeiro episódio que não é um mero "freak show" de mortos-vivos comedores de pessoas. É bem mais complexo que isso, especialmente na caracterização complexa dos sobreviventes. Frank Darabont realizou esse primeiro opus de uma forma magistral. Tão magistral que os seguintes deixaram as pessoas com um pequeno amargo de boca, a salivar por mais. Mas somos pacientes. A AMC já renovou The Walking Dead para mais uma temporada de 13 episódios. Cá estarei para os ver todos e começar a preparar o manual de sobrevivência em caso de apocalipse.


Desilusões do ano:

The Pillars of the Earth (minisérie)
Tinha tudo para ser um dos acontecimentos do ano. É a adaptação de um dos romances mais badalados da década de 90, Os Pilares da Terra, de Ken Follet. Mas o resultado é muito pobrezinho. Não o digo por mérito de ter lido os livros. Não o fiz. Mas basta ver a série para perceber que os argumentistas tentaram a todo o custo acrescentar o máximo possível de acontecimentos de um romance que é gigantesco, e que abarca várias décadas da vida das respectivas personagens. O resultado final é uma caracterização péssima (a passagem dos anos quase nunca se nota), e uma história tão básica e mal amanhada que se parece com um apanhado dos livros a fazer lembrar aqueles cadernos de apoio que os estudantes preguiçosos usam para não terem de ler a obra que o professor mandou. Os eventos seguem de uma forma tão rápida que se torna por vezes difícil entender as escolhas de vida e as emoções das personagens (amor, ódio, inveja...). Se estão interessados em ler o livro (dois, no caso da edição portuguesa), não percam tempo a ver isto. Eu arrependi-me amargamente.
The Event (1ª temporada)
Depois de FlashForward ter sido anunciado com pompa e circunstância como o grande sucessor de Lost, falhou miseravelmente. Em seguida, este The Event foi catalogado na mesma prateleira, mas está prestes a estatelar-se ao comprido. Maus actores, argumento com demasiados altos e baixos e alguma saturação neste tipo de história podem ser apontadas como as razões principais.
Undercovers (1ª temporada)
Uma nova série de JJ Abrams é sempre um acontecimento. Mas este Undercovers revelou-se uma tentativa desesperada de reclamar a herança de Alias. Erro fatal, com uma dupla pouco credível de actores e episódios com histórias patéticas, banais, que fazem Covert Affairs (outra risível série de espiões com Piper Perabo) parecer um Jason Bourne. Um passo atrás na carreira de Abrams, que acabou por ver a série cancelada.
Weeds (5ª temporada)
O que aconteceu com aquela que já foi uma das minhas séries favoritas? Weeds devia ter terminado logo após a terceira temporada, depois de vermos o bairro suburbano de Agrestic arder. A tentativa de continuar a explorar o filão resultou num beco sem saída para a família Botwin. E Andy, a grande personagem explorada de forma irrepreensível pelo actor Justin Kirk, perdeu todo o seu protagonismo. Vai haver uma temporada 6. Valha-me Deus!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Para o meu pai: 

Há quem diga que o carácter de uma pessoa se pode definir pelo número de amigos, familiares e conhecidos que irão comparecer no dia do seu funeral. Vamos eliminar desta equação os casos excepcionais (vítimas de terrorismo, por exemplo, que levam atrás de si hordas de pessoas desconhecidas), e tendo em conta essa teoria, acho que o meu pai passou com distinção o teste do tempo. Sinto com toda a segurança que muitos o irão recordar, e que o farão durante muito tempo, de uma forma extremamente positiva.
O meu pai prestava-se com deleite na ajuda aos outros, sendo de trato fácil e sem formalismos bacocos. Ao longo da sua vida ajudou muita gente no exercício da sua actividade profissional, mas também foi consolo de outros em incumbências mais personalizadas e até de foro íntimo.
A vida do meu pai foi difícil, cheia de obstáculos duros. Foi muito jovem alistado no exército e obrigado a ir para Moçambique, onde aterrou literalmente no turbilhão da guerra colonial, na região de Tete. Após regressar inteiro, sofreu um acidente automóvel que paralisou a nossa família em muitos sentidos, e lhe alterou os planos para sempre. Foi acossado de doenças que lhe desafiaram a vida, mas a derradeira, o cancro, valeu-lhe um combate que durou seis longos anos com muito sofrimento pelo meio.
Se existisse um mundo justo, pessoas assim não deviam ser obrigadas a pagar tanto por ter o seu pedaço de céu. Mas a vida é uma roleta de indefinições, e nós vivemos sobre este jugo de acasos que ocasionalmente nos empurram para crises existenciais.
Neste momento, se existe um Deus (e eu acredito que sim, apesar de todas estas provações), o meu pai estará retido ad infinitum numa das muitas cenas idílicas que também viveu (sim, porque a vida não são só coisas más). Talvez numa taberna, numa patuscada, sentado à mesa com o meu avô e o seu amigo Vinagre, em amena cavaqueira regada com um tinto do Dão e uma morcela assada. É assim que o quero recordar. E sei que os seus amigos também.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Inception

Classificação: 8 Espigas (em 10)

Positivo - Uma realização magnífica de Christopher Nolan, a que já nos habituou até nos seus trabalhos menos conseguidos (Insomnia); fotografia também de excelente qualidade, com a assinatura habitual de Nolan e o seu parceiro neste domínio, Wally Pfister (que o acompanha deste Memento); A dinâmica da história é de cortar a respiração, assim como os puzzles montados para aliciar e provocar o espectador; Grande trabalho do actor inglês Tom Hardy, assim como de Leonardo DiCaprio, que é para mim o nome maior dos estúdios de Hollywood para este princípio do século XXI. Veremos se mantém a aura e não a desperdiça como Tom Cruise ou Kevin Costner (em contextos diferentes); o final ambíguo.
Negativo - Onde é que já vi isto de andarmos todos aos saltos e aos tiros num mundo virtual (neste caso o dos sonhos) onde as regras da física não se aplicam? Ah, sim: Matrix.
Vamos lá limpar um pouco o pó a este blog. Seguem-se dentro de momentos algumas novas apreciações a alguns filmes que vi nos últimos meses.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

The Ghost Writer

Classificação: 8 Espigas (em 10)

Positivo -Mais um filme de Polanski que nos remete para a sua veia de criador de thrillers, desta vez de cariz político, com mérito de figurar ao lado de Frantic ou Ninth Gate; Ewan McGregor e Pierce Brosnan vão muito bem, além de Olivia Williams; A belíssima fotografia de Pawel Edelman e a forma como as paisagens da ilha de Sylt, na Alemanha, foram caracterizadas para parecerem a bem americana Martha's Vineyard; a subtileza de uma história como esta é uma bênção nos dias que correm.
Negativo - Kim Cattrall, muito fora do seu glamour de Sex and The City, não convence; ver Timothy Hutton tão desaproveitado no papel de um advogado deixa-me triste pela carreira deste excelente actor; apesar de ter um twist, o final é previsível.
Kick-Ass

Classificação: 9 Espigas (em 10)

Positivo -A sátira pefeita ao mundo fantasioso dos super-heróis, baseada na excelente BD de John Romita Jr. e Mark Millar; a realização de Matthew Vaughn, senhor que ainda não me desiludiu (fez o magnífico Layer Cake e o surpreendente Stardust); Hit Girl, Hit Girl, Hit Girl, ... ah! E também a Hit Girl (desempenhada com muito mérito pela pequena Chloe Moretz de 13 anos)!! Nicolas Cage reabilitado no papel de Big Daddy.
Negativo - O actor de quem esperava mais, Christopher Mintz-Plasse (que foi genial no papel de Fogell em Superbad), acabou por ser aquele que menos conseguiu "espremer" da sua personagem; à medida que nos aproximamos do final a fantasia aumenta, a provar que não é fácil separar os super-heróis do irreal e ilusório, que aqui (tratando-se de uma sátira) se queria reduzido ao mínimo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Zombieland
Classificação: 7 Espigas (em 10)

Positivo - Uma resposta americana a outro filme (Shaun of The Dead) sem que fosse necessário um remake! Esta fita é mesmo original e muito divertida. Algo raro nos dias em que vivemos; o "cameo" de Bill Murray é hilariante; A história é simples, curta e grossa (neste caso, gory!), como um bom filme de zombies deve ser; a proporção entre comédia e terror está muito bem equilibrada (com a apetência para a comédia a vencer, como é suposto num filme que não se leva a sério); Woody Harrelson vai muito bem, e podia ter um filme só dele baseado nesta sua personagem; as caracterizações dos zombies, e a forma como os desgraçados correm!
Negativo - É claro que Shaun of The Dead continua a ser superior, nem que seja por algum puritanismo e falta de ideias que os britânicos evitaram, mas os americanos não, além do brilhante Simon Pegg e um argumento mais "sumarento"; Jesse Einsenberg e Michael Cera são o protótipo do herói jovem geek que consegue a miúda no fim, mas esta "vingança nerd" já começa a ser demasiado repetitivo.

Classificação: 5 Espigas (em 10)

Positivo - James Purefoy é um Senhor neste tipo de papéis; a produção até tem os seus momentos bons, se tivermos em conta que este não é um filme americano (logo, não tem um orçamento descomunal).
Negativo - O argumento parece tirado de um jogo de consola, com monstro de final de nível e tudo; as personagens são demasiado estereotipadas, e o argumento simplista e até infantil, com clichés uns atrás dos outros; o uso excessivo de filtros na fotografia é suposto dar uma atmosfera sombria e gótica a estas fitas, mas quando usado por mãos inábeis (como é o caso) só faz é estragos, tornando a coisa muito artificial (é mal geral dos filmes desta década, não somente deste); história previsível.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Esta semana fiz uma sessão dupla de terror cá em casa. Eis a minha avaliação aos dois filmes:

 Classificação: 5 Espigas (em 10)

Positivo - Ethan Hawke e Sam Neill, (quase) sempre excelentes actores dispostos a arriscar em nomes desconhecidos (Gattaca foi a piece de resistance de Hawke nesta área); a premissa curiosa de mostrar um mundo onde quem reinam são os vampiros, e não o contrário; o aspecto gótico bem conseguido de algumas cenas.
Negativo - Fotografia saturada, efeitos em câmara lenta, CGI em doses loucas, enfim... todos os ingredientes exagerados, que mais dois realizadores novatos (e irmãos) usam e abusam para tentar convencer o público de que são realizadores de cinema a sério. Keep it simple, stupid! Não vão lá com tanta parafernália; a história descamba para mais um milhão de clichés, diálogos parvos, e um desenvolvimento parecido a um videojogo (com uma solução para o vampirismo absolutamente ridícula). Onde é que já vi isto um milhão de vezes? Willem Dafoe, que raio de personagem é essa, pá? Finalmente, as cenas estúpidas que são um vírus no cinema de terror actual em que alguém se lembrou de fazer passar um vulto no ecrã com um som assustador no máximo volume para nos obrigar a saltar da cadeira. Irritante e desnecessário. Se isto metesse mesmo medo, não era preciso esses artifícios.

Classificação: 6 Espigas (em 10)

Positivo -Benicio del Toro sustenta todo o filme com o seu trabalho; bem filmado, com muita competência e profissionalismo por Joe Johnston (o mesmo de Jumanji ou Jurassic Park 3, e que brevemente lançará a versão cinematográfica do Capitão América); os efeitos especiais do lobisomem, com uma maravilhosa homenagem aos clássicos da Hammer.
Negativo -História básica, muito fraquinha e previsível; Emily Blunt é bonita, mas supérflua; os tiques de Anthony Hopkins na sua personagem de Van Helsing no Dracula de Coppola estão todos lá, o que demonstra que o velho actor chegou ao seu limite interpretativo, ou deve explorar novos caminhos; demasiada banda sonora estraga a tensão que poderia ter sido assustadora em alguns momentos. Assim, raramente o susto me levantou da cadeira.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Shutter Island

Classificação: 7 espigas (em 10)


Positivo -Di Caprio em mais uma performance excelente, a mostrar porque Scorsese o escolheu para sua "musa"; o formalismo impecável de Scorsese a filmar; a história em geral, baseada no livro de Dennis Lehane (Mystic River e Gone Baby Gone).
Negativo -Este é daqueles filmes que dificilmente me conseguiria conquistar à primeira, embora a ansiedade e curiosidade de o ver fossem muitas. É que tive oportunidade de ler o livro há cerca de um ano, e nada do que ali se passa é novidade para mim (nomeadamente o "twist" final). De qualquer forma, posso acrescentar que a história foi cinematografada de forma correcta, com respeito pelo material original, embora também aqui tenha notado (como no livro) alguma previsibilidade nos acontecimentos. Há quem aponte acusações de plágio a Dennis Lehane pelo romance. Depois de ver excertos do filme de que se fala (O Gabinete do Dr. Caligari) fico com algum amargo de boca. O que não gostei muito foi o aspecto demasiado artificial e limpinho da ilha (tecnicamente, não na imagem per se), dos ambientes (demasiado assépticos e digitalizados), e o uso exagerado da fotografia com filtros. Há noir, há escuro, há névoa e gótico, mas estes ingredientes querem-se mais "sujos" e orgânicos. Não é a primeira vez que Scorsese o faz ("The Aviator", por exemplo), mas desta vez foi um pouco longe demais. Por outro lado, desiludiram-me as cenas na "enfermaria C", a dos prisioneiros mais perigosos, que no livro está retratada de uma forma mais negra, e onde Jackie Earle Haley vai muito bem, mas não chega para amedrontar.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sobre o Final de Lost (SPOILERS)...

Tal como imaginei, Lost terminou com uma forte carga religiosa e um sem número de perguntas que toda a gente queria ver respondidas. É óbvio que isso era impossível. No entanto, compreendo as angústias daqueles que passaram seis anos a tentar entender alguma teoria específica (os números "mágicos", as viagens no tempo, quem viveu originalmente na ilha, quem era a mãe de Jacob...) e depois chegaram ao fim com pouco ou nada.
Há que recordar que Lost esteve "à deriva" durante boa parte da temporada 3, e que muitas histórias serviram para "encher chouriços" até os seus criadores conseguirem o afamado contrato com a ABC que lhes permitiu dar um fim digno à série.
Tenho pena que não se chegue a perceber o que é a luz da ilha, e qual a importância desta, mas acho que isso é o mesmo que querer saber se Deus existe (ou como li num forum de fãs, quem nasceu primeiro, a galinha ou o ovo).
É preciso um pouco de fé. E foi a pedir muita fé aos seus fãs que Lindelof e Lieber concretizaram o fim de uma das mais famosas séries da década, e mesmo da história da televisão.
Vou dar um exemplo de todo o burburinho que anda na net: alguns queixam-se que ficámos sem perceber porque raio o irmão de Jacob se tranformou no monstro de fumo, e o mesmo não aconteceu a Desmond ou mesmo a Jack. A minha teoria é de que estes dois eram pessoas especiais, dignas de entrar na luz. Uma (Desmond) pelas suas propriedades electromagnéticas que fomos acompanhando ao longo das últimas temporadas. Jack simplesmente porque foi escolhido por Jacob. Mas é como digo: isto é apenas uma teoria minha, entre dezenas ou centenas que andarão por estes dias a inflamar a internet. E aí é que está o busílis da questão. Lost terminou com muitas coisas em aberto precisamente para que cada um encha os espaços em branco da maneira que mais lhe aprouver. E isso, no meu dicionário, é qualidade. Querem a papinha toda? Vejam a Anatomia de Grey ou o Dr.House e deixem-se de merdas.
Vou ter saudades de Lost... muitas.

terça-feira, 4 de maio de 2010

The Man Who Stare at Goats

Classificação: 8 Espigas (em 10)

Positivo -Saber que uma parte desta história (mais do que aquilo que se poderia esperar) aconteceu mesmo; Jeff Bridges, George Clooney, Kevin Spacey, o triunvirato genial da imbecilidade e idiotice: um elenco perfeito; algumas cenas que podem vir a transformar este filme numa obra de culto (ao estilo do grande Lebowski), como a declaração a McGregor (mestre Jedi nos Star Wars) de que Clooney é um "verdadeiro" Jedi, ou o plano geral onde se vê o carro de Clooney e McGregor rebentar à passagem por uma mina, para não falar da célebre morte da cabra...

Negativo -Há quem compare com a obra dos irmãos Coen ("O Brother, Where Art Thou?", "The Big Lebowski", "Burn After Reading", a trilogia da idiotice). É verdade. As semelhanças são muitas, e Clooney já jogou neste campeonato (da personagem absolutamente idiota) vezes demais (o que fariam os Coen deste material?). No entanto, acho que o filme acrescenta algo de novo: os factos reais, a exploração do que um exército pode chegar a fazer para ganhar uma guerra; apesar de até achar o seu trabalho como actor muito interessante, não gostei de ver Ewan McGregor. Em baixo de forma...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Surrogates

 Classificação: 6 Espigas (em 10)

Positivo - A premissa do filme é muito interessante, embora copiada a papel químico de muitos clássicos de ficção científica; bom entretenimento "pipoqueiro", com uma salada de filosofias cyberpunk esmagadas em hora e meia de fita.

Negativo - Quero o Bruce Willis dos anos 1980 de volta! Este já gastou as pilhas; a utilização fraca e mal explicada da tal premissa do filme, em que pessoas agem e vivem o seu dia-a-dia através das suas cópias robóticas no mundo real, tornando a sociedade uma coisa asséptica e artificial; Alguns efeitos especiais são fraquinhos, especialmente para a época "Avatar" em que vivemos.
A pseudo-revolução ou a dúvida do ano

 O lançamento do iPad veio mexer com o mercado informático, como é hábito nas novidades provenientes do mundo da maçã. Um tablet PC com muita autonomia e capacidade para ler os jornais diários e livros de todo o mundo é um produto que estou disposto a comprar. Mas será o iPad a solução?
Nestes primeiros dias em que o aparelho está no mercado, tenho tentado acompanhar nos media tecnológicos e generalistas as várias opiniões sobre o assunto.
Do lado dos leigos, que não percebem (nem querem perceber) o funcionamento da máquina, o iPad é uma revolução. Do lado dos geeks é uma decepção. E das grandes. Não vejo a coisa de forma tão linear em qualquer das perspectivas.
Se tivermos em conta apenas a parte técnica, o iPad é efectivamente um "gizmo" muito limitado. Como se não bastasse a falta de ligações externas (por exemplo USB), há ainda o processamento single thread, que permite correr apenas uma aplicação de cada vez. Mas por outro lado, esta é provavelmente a única forma de conseguir, com a tecnologia actual, que o iPad tenha uma autonomia tão grande (já vi relatos de quase 12 horas seguidas sempre em funcionamento com internet!). Com estas especificações o aparelho não precisa de gastar a energia que um PC normal necessita, poupando milhões de ciclos de relógio de um processador multi-threading. Da mesma forma faço a análise à falta de suporte ao Adobe Flash no browser de internet, que vai deixar muitos sites com quadrados em branco na altura de navegar a net. É conhecido de todos que é através do Flash que muitos vírus se propagam e atacam os computadores, normalmente porque os utilizadores não actualizam o software com a devida regularidade. A solução da Apple foi pura e simplesmente eliminar o Flash do seu sistema, criando um ambiente mais seguro, sem necessidade de constantes actualizações ou anti-vírus, "jargões técnicos" que provocam comichão a quem só quer um iPad para ler, jogar e navegar, não para programar ou trabalhar.
Depois temos o lado funcional, mais apetecível aos leigos. É verdade que o iPad tem todas as funcionalidades do iTouch, com um ecrã superior, além de novas funcionalidades, destacando-se o leitor de livros. O grande problema do iPad neste campo é a sua gritante limitação aplicacional: não posso, pura e simplesmente, instalar software meu na máquina. A única forma de o fazer é através da iTunes Store da Apple, o que além de limitar a oferta, permite à empresa americana controlar o que pode ou não ser vendido/distribuído na sua loja. Se algum programa não lhe agradar (como já aconteceu com apps de iPhone), a Apple simplesmente retira-as da loja ou nem sequer permite a sua distribuição. Isto é censura, meus amigos. É uma limitação imposta por uma empresa para que só seja possível comprar os seus produtos nos seus termos. Para quem se advoga como combatente anti-DRM, a Apple mostra o seu lado negro com uma medida que vem em contramão com tudo o que a internet e os pc's vieram trazer: democracia digital, conhecimento sem limites, globalização de produção e socialização.
Por outro lado, esta limitação tem as suas benesses para o utilizador. Mais uma vez entram em campo as variáveis da segurança e fiabilidade. Através deste apertadíssimo controlo, a Apple praticamente garante que nunca virá a ser necessário instalar um anti-vírus numa máquina destas. Além disso, estamos a falar da Apple, que já tem milhares de aplicações gratuitas na sua loja para o iPhone, a maioria compatíveis com o iPad. E com todo o buzz que tem existido em redor desta máquina, é natural que vejamos um aumento exponencial de jornais e revistas a querer ter as suas próprias aplicações de leitura no iPad. É uma revolução no mundo dos media escritos? Pode ser. Com certeza irá ajudar a que nos próximos tempos se vendam mais jornais New York Times ou revistas Time do que nos últimos anos, aumentando o rendimento destes media.
Em conclusão, ter ou não um iPad é uma decisão a ser tomada depois de assentar a poeira, e descobrirmos quais destes argumentos venceram no sítio que realmente interessa: o mercado. Aguardam-se ansiosamente os próximos episódios, entre os quais o lançamento do HP Slate, concorrente directo ao iPad do consórcio Microsoft-Hewllet Packard. To be continued...

terça-feira, 9 de março de 2010

Os Oscars

Lá se passou mais uma edição da grande festa da Academia americana de cinema, evento que pela sua projecção e importância afecta directamente os mercados do filme em todo o mundo, independentemente de se concordar ou não com as nomeações e os premiados.
Com a diminuição drástica de espectadores nos últimos 10 anos, a cerimónia de entrega dos Oscars tem passado por sucessivos tubos de ensaio. Este ano não foi diferente. Em vez de contar com um único apresentador, a Academia decidiu apostar em dois: Steve Martin, que já apresentara a solo a cerimónia, e Alec Baldwin, actor actualmente em estado de graça pela sua participação no elenco de 30 Rock, série cómica da NBC que relançou a sua carreira. A química dos dois actores foi interessante, embora tenha pecado por saber a pouco. É inevitável sentir saudades de Billy Crystal, o protótipo de apresentador por excelência. O ano passado Hugh Jackman andou lá perto, com os números de dança e uma veia cómica que não se lhe conhecia no mainstream. Mas Crystal é Crystal.
No entanto, parece que as audiências responderam positivamente a este formato, onde também os discursos de agradecimento foram diminuídos ao máximo, algumas estrelas do firmamento teen foram adicionadas aqui e ali (Miley Cyrus e Taylor Lautner, por exemplo), e até a tradicional apresentação das músicas a concorrer ao Oscar de melhor canção original pura e simplesmente não existiu.
De positivo fica para a história a entrada em palco do inigualável Ben Stiller, maquilhado de Na'vi, paródia que já fizera em anos anteriores (ou eventos diferentes) com outras personagens fictícias ou bem reais do mundo do entertainment. Também interessante foi o número de dança de abertura com Neil Patrick Harris, outro actor de televisão com destaque no público mais jovem (brilha na série "Foi Assim que Aconteceu - How I Met Your Mother"), que esteve bem, embora sem fazer esquecer a brilhante perfomance do ano passado de Hugh Jackman.
O mais fraco da cerimónia foi, sem dúvida, o número de dança a apresentar as bandas sonoras originais nomeadas ao Oscar. O espectáculo foi proporcionado por um grupo que coreografou e interpretou cada uma das músicas com passos de break-dance. Muito pobre, pouco original, e algumas vezes completamente fora de contexto (a música de UP transformada em break-dance? Hugh...).
Quanto aos nomeados, no meu entender fez-se justiça. The Hurt Locker foi, na minha opinião, o filme do ano passado que mais argumentos tinha para sair vencedor, e até consta da minha lista de best of. Avatar ficou-se pelos galardões técnicos, que também merecia, mas perdeu em todas a linha nos restantes departamentos. É justo, tratando-se de um filme com uma história tão básica e roubada a clássicos (Pocahontas é sempre o mais nomeado).

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Interlúdio.

Este blog encontra-se temporariamente sem actividade devido à minha actual falta de tempo. Fui pai há duas semanas e estou a gozar uns dias magníficos (e cansativos, admito) com o meu novo rebento, uma bela rapariga que nasceu com 2,93Kg.
Os visionamentos (de filmes e séries) seguem-se dentro de mais duas semanas, sendo que serão muitos concerteza. Tenho tentado manter o máximo de distanciamente de tudo o que seja relacionado com "Lost", pois quero ter o prazer, quando regressar, de fazer uma super-sessão caseira com 6 ou 7 episódios seguidos. Vai ser um encher de barriga desavergonhado. Até breve.

Editado a 2 de Março de 2010

domingo, 31 de janeiro de 2010

The Road

 
Classificação: 8,5 Espigas (em 10)

Positivo -Excelente adaptação do livro (também excelente) de Cormac McCarthy; Uma fotografia a condizer com o teatro pós-apocalíptico; a interpretação sublime (não só pelo desafio físico) de um actor, Viggo Mortensen, que já merecia uma nomeação aos Oscars; a química muito bem conseguida entre pai e filho, afinal o tema principal do livro, graças ao bom casting do miúdo Kodi Smit-McPhee; o filme é um autêntico ensaio sobre a desumanização e... o amor. Parece demasiado paradoxal? Vejam o filme!.

Negativo - Algum academismo no modo de filmar, que se perdoa pelo escasso currículo do australiano John Hillcoat (que, no entanto, já dirigiu um outro bom filme: The Proposition, com argumento de Nick Cave). Não consigo deixar de imaginar o que teriam feito Alfonso Cuarón ou David Fincher (os meus dois fétiches para filmes com tendências depressivas).

sábado, 30 de janeiro de 2010

Mais uma fornada de filmes que vi nos últimos dias:

2012

 
Classificação: 5 Espigas (em 10)

Positivo -O realizador Roland Emmerich especializou-se em introduzir nos seus blockbusters, de forma ligeira e algo subliminar, mensagens políticas e de activismo social bastante construtivas. Já o fizera em "The Day After Tomorrow" - a cena da evasão da população americana para o México, com o país latino a reivindicar o perdão da dívida externa para deixar entrar a população assustada é, no mínimo, inteligente.
Voltou a fazê-lo agora, com os ricos e poderosos a ter entrada directa nas enormes arcas de salvamento através de pagamentos astronómicos que os colocam à frente da população em geral. São tudo avisos pertinentes.

Negativo -Irritam-me profundamente os filmes de acção que pretendem dar algum cariz dramático e sério à história e depois incluem cenas de acção onde as personagens gritam como se estivessem a passar pelo loop de uma montanha russa.
Se quisesse jogar um jogo de computador ligava a minha PS3. 2012 é um imenso jogo cheio de níveis do princípio ao fim. Se essa era a premissa com que deveríamos começar a ver o filme, não deveriam incluir cenas demasiado pretensiosas. Além disso a previsibilidade da história alastrou para outros aspectos. Até os efeitos especiais são previsíveis, tendo em conta a quota gigante que Emmerich já conta no seu curriculum de filmes-catástrofe. Homem, faça outra coisa na vida!
O elenco estereotipado é de uma nulidade confrangedora, John Cusack incluído (um actor que até aprecio).

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Classificação: 8 Espigas (em 10)
Positivo -O timing em cheio do filme, numa época de downsizing nas empresas um pouco por todo o mundo; a forma como nos mostra com crueldade e algum humor negro a sensação de ser despedido; o trabalho não só de George Clooney, como de Anna Kendrick; a maneira brilhante como Jason Reitman filma a solidão na era moderna, com uma fotografia a condizer e alguns planos muito bonitos.

Negativo - Na recta final perde algum fôlego, apesar do twist na história. Não gostei em especial da viagem de Ryan (George Clooney) para o casamento da irmã, onde há algumas cenas demasiado lamechas e que tornam o filme um pouco meloso no seu todo. Não havia necessidade, porque até aí o equilíbrio entre comédia e drama estava perfeito.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Música para o fim de semana.



Alice in Chains - "Check My Brain", do novo álbum (e surpreendentemente bom) "Black Gives Way to Blue"
Já li "Catcher in The Rye" pelo menos cinco vezes, tanto em versão original como traduzida. É daqueles livros que me acompanham desde o princípio da minha idade adulta. Desde que, imberbe adolescente, me deixei levar pelos prazeres da beat generation. J.D. Salinger, não fazendo de forma alguma parte deste movimento, tem na minha perspectiva um lugar cativo de visitante.
"Catcher in The Rye" transpira inconformismo por todos os poros, numa perspectiva de ingénua rebelião infantil, é certo, mas de uma forma perigosamente viciante, como uma boa leitura de "On The Road" do Kerouac, com direito a visitas nocturnas pela Nova Iorque pré-beatnicks e respectiva fauna disfuncional.
A sua morte não nos deixa mais pobres, como se costuma dizer alarvemente. Salinger não escrevia nada há décadas e prezava o seu isolamento e privacidade com alguma dose de loucura e paranóia. A família decidiu (e bem) não promover sequer um serviço fúnebre, coisa que despertaria romarias de fãs e muita tinta, electrónica ou não, por esse mundo fora. O escritor vai desta forma manter o seu estilo de vida até à cova: um asceta do século XXI é por si só obra significativa para mostrar a gerações futuras.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Terminei hoje o visionamento da última semana de emissões do The Tonight Show with Conan O'Brien. E que semana! Como um dos convidados disse a determinada altura, dirigindo-se para o ruivo mais famoso da América, "you're on fire!".
Parece que a inevitabilidade do que aí vinha travestiu o Tonight Show de tal forma que as audiências aumentaram quase para o dobro, e a loucura foi de tal forma exponencial que relembrou os bons velhos tempos do Late Night. Regressaram personagens saudosas como o urso masturbador ou o cão Triumph, e as piadas voltaram a ser mais acutilantes e desprovidas de "politicamente correcto" para não ferir as pobres mentes do midwest puritano. Por várias cidades realizaram-se manifestações de apoio a Conan O'Brien, isto para não voltar a falar do movimento pró-Conan cada vez maior que se espalhou pela internet.


O que os executivos da NBC fizeram foi uma amálgama de más decisões, mas a mais grave de todas ainda está para vir. É que Conan O'Brien é o anfitrião por excelência da geração dos 20/30 anos de idade, uma fatia em que tanto Jay Leno como David Letterman pouco terão a dizer. Na minha opinião foi essa a razão principal da descida de audiências do Tonight Show durante o curto reinado de Conan O'Brien. É que muitas dessas pessoas têm actualmente outras formas de ver televisão, ou simplesmente outros media pelos quais seguem os seus programas, noticiários e documentários. A internet democratizou o visionamento de conteúdos de tal forma, que hoje pensar em timeslots publicitários como se fazia há duas décadas devia ser impensável, até mesmo um arcaísmo. Mas não é, como o provaram os inanes senhores que administram aquela que já foi a maior casa televisiva dos Estados Unidos.
Quando Conan O'Brien regressar (e acreditem que ele vai mesmo regressar, seja na FOX ou noutro canal qualquer), será para apostar num talk-show voltado para as audiências do futuro, tal como tentou fazer com o Tonight Show, onde a maturação deveria esperar não uns meros sete meses, mas dois ou três anos, até que os miúdos que agora têm os tais 20 anos de idade comecem a ficar em casa à noite para ver os seus programas, seja através da tradicional transmissão televisiva, ou ainda melhor pelos streamings de vídeo cada vez mais evoluídos e rápidos da internet, e sem o constrangimento das horas.
No ocaso do Tonight Show with Conan O'Brien passou um autêntico desfile da actual geração de comediantes americanos. Por lá estiveram Adam Sandler, Ben Stiller, Ed Helms, Steve Carell (que representou um empregado da NBC fazendo a corriqueira entrevista de saída da empresa ao empregado demissionário) e Will Ferrell, que cantou no último suspiro do programa, acompanhado de uma banda de notáveis, com o próprio Conan na guitarra (!!), Ben Harper, Beck, Billy Gibbons (dos ZZ Top) e toda a banda do Tonight Show, com Max Weinberg na bateria. Eis a despedida de Conan O'Brien, para os mais nostálgicos, com o sentimento de que o famoso "I'll be back" nunca fez tanto sentido como agora.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Para compensar a minha ausência na última semana destas lides bloguísticas, registo não uma, mas duas críticas a filmes que vi nos últimos dias. Voilá:

Where The Wild Things Are

Classificação: 7,5 Espigas (em 10)

Positivo -A forma extraordinária como a narrativa nos transporta para a mente de uma criança, com toda a sua simplicidade e ingenuidade, com destaque para os lados bom e mau, sem a afamada "grey area" que o crescimento irá inevitavelmente trazer; o decalque brilhante do quão cruel pode ser uma criança; a banda sonora de grande qualidade; a voz de Gandolfini como Carol; os bonecos e a forma como foram animados.

Negativo -Não é nem um filme para crianças, nem propriamente um filme para adultos (digamos que passa por carne com cheiro a peixe), o que poderá ser-lhe fatal no box office; numa história tão simples (é baseado num livro de Maurice Sendak) admito que seja difícil extrair uma longa metragem, mas o filme tem alguns momentos em que se nota que teve de ser esticado.

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Classificação: 6 Espigas (em 10)

Positivo - A mistura bem conseguida entre um filme para audiências "fáceis", com muita tecnologia e acção a rodos, e um filme "puro Sherlock Holmes", mais ortodoxo, com inúmeras referências ao verdadeiro universo da personagem na sua base literária; Robert Downey Jr. consegue surpreender-me quando pensava que isso já não fosse possível - uma aposta arriscada mas frutífera num actor americano; Se me permitem a comparação com o mundo da banda desenhada, este filme é um exemplo do que deveria ter sido a adaptação da Liga dos Cavalheiros Extraordinários (o desastre cinematográfico que fez Sean Connery abandonar a indústria dos filmes).

Negativo - A história é demasiado previsível e repleta de gags humorísticos que desvirtuam o ambiente requerido para um filme de Sherlock Holmes; o CGI da construção da Tower Bridge pareceu-me um pouco artificial; o final foi pouco compensador, com um twist algo patético, embora surja no horizonte a sequela (garantida) com o verdadeiro grande vilão de Sherlock Holmes, o professor Moriarty.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Música para animar a semana:


Vampire Weekend - "Horchata", do novo álbum "Contra".

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010


Se há apresentador de talk-shows sem o qual eu não consigo passar é Conan O'Brien. Vejo o programa deste senhor desde 1996, através da velhinha parabólica que o prédio onde vivo mantinha com alguns canais, entre eles a NBC (Europa? Não me recordo...). Ou seja, o Late Night com o Conan tinha naquela época apenas 3 anos de longevidade. E a verdade é que, no princípio, nunca fui grande fã de Conan O'Brien, ao invés de Jay Leno, de quem sempre gostei do approach mais conservador, light e coloquial na stand-up que tradicionalmente inicia este tipo de programas.
Mas a verdade é que O'Brien cresceu muito com o passar dos anos (e Leno envelheceu mal), consolidando um estilo muito próprio de fazer comédia, muitas vezes demasiado física para alguns, ou demasiado estúpida para outros.
Eu diria que é uma comédia "nonsense", ao bom estilo Monty Python. É de um "nonsense" mais fresco, inicialmente voltado para um público mais jovem (que entretanto envelheceu, como é o meu caso), que Conan apostou após uns fracos primeiros anos de audiência nos Estados Unidos. E resultou. Não só muitos sketches do Late Night se tornaram autênticas lendas da TV (um dos meus favoritos é Triumph, o cão insultuoso e comediante, por esta ordem), como o próprio Conan se tornou uma imagem de marca. Mesmo quem não gosta concerteza reconhece a gigantesca madeixa ruiva do apresentador, que se tornou um ícone, e a dança de marioneta sem fios com que brindava os espectadores ao início de todos os programas. Esta já não a faz com tanta regularidade no Tonight Show, numa clara tentativa de agradar às audiências mais velhas do antigo programa de Jay Leno.
A NBC começou há perto de 7 meses a fazer experiências absurdas, atacando o prime time americano com um novo programa de Jay Leno, e abdicando das séries de ficção. Ora a coisa (obviamente) não resultou face à concorrência, que manteve a ficção de CSI's e companhia no mesmo horário. E o que faz agora a NBC? Para tentar não perder a sua galinha dos ovos de ouro, pretende reinstalar Jay Leno no horário do Tonight Show (que este já apresentou e é agora de Conan O'Brien), obrigando a adiar este último para um horário das 00:05, adulterando o formato e horário de um programa lendário que nunca foi alterado desde os anos 1960, altura em que o Tonight Show foi apresentado pelo lendário Johnny Carson (o programa, esse, já existia desde os anos 1950).
Conan O'Brien não gostou, e já faz saber a sua opinião publicamente. Com toda esta telenovela a NBC está prestes a perder o americano-irlandês ruivo mais famoso da televisão, e a antagonizar Jay Leno face ao público que (ainda) vê a NBC.
Para bem deles, espero que encontrem uma solução para todo este imbróglio, mas pessoalmente acho que o mal está feito, e Conan vai mesmo sair.
Pela internet corre uma vaga de apoio a Conan O'Brien, do qual destaco a imagem que apresento aqui no Espigas, criada por Mike Mitchell, e que o autor encoraja a ser usada por blogs e sites do mundo inteiro.
Como se diz na internet cloud actualmente, I'M WITH COCO!

sábado, 9 de janeiro de 2010

Invictus


Classificação: 7 Espigas (em 10)

Positivo - Um filme inspirador, não se tratasse de uma história verídica, com Morgan Freeman a representar de forma brilhante Nelson Mandela. É daqueles filmes em que o desporto é "larger than life", e de uma selecção de râguebi (os Springboks) se consegue unir toda uma nação. Numa escala mais pequena e menos dramática, faz lembrar a nossa caminhada para a final do Euro 2004. De salientar também a fotografia, que respira África por todos os poros (afinal foi mesmo filmado nos sítios onde tudo ocorreu), e o realismo com que Clint Eastwood soube apaziguar o que poderia ter sido uma tremenda xaropada. Se os nossos Lobos nos fizeram gostar mais de râguebi, este Invictus tem tudo para despertar o povo tuga para esta nobre modalidade. A que, como se diz no filme, "é um jogo de hooligans jogado por cavalheiros, ao contrário do futebol, um jogo de cavalheiros jogado por hooligans". Bingo.

Negativo - Terá sempre aquele "feeling" de filme biográfico, com tiques que estamos habituados a ver em algumas produções do género. Apesar do realismo de Eastwood (na minha opinião um ponto positivo para o filme), talvez não tivesse ficado mal imprimir mais dramatismo aqui e ali em alguns pormenores (no decorrer do jogo da final, por exemplo?), para não tornar o filme algo insípido. Mat Damon está bem caracterizado, mas é provável que um actor mais desconhecido (e menos... americano) teria sido uma mais-valia.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

E por falar em Lost, começam os teasers da última temporada desta magnífica série (para quem a segue religiosamente desde o primeiro episódio). Esta recriação da Última Ceia está... divinal! E dizem que contém várias dicas para o enredo final.

Como andava aborrecido e farto do sistema de ter de descarregar via torrent ou emule os episódios do Colbert Report, Daily Show ou Tonight Show with Conan O'Brien, decidi dar uma oportunidade aos conselhos que lera no blog do Nuno Markl há uns meses. Ou seja, gastei uns quantos euros e adquiri uma licença de um ano para usar os servidores da Witopia como proxy anónimo (através de vpn) e tentar enganar os sites americanos sobre a minha verdadeira localização. O meu alvo principal era o site Hulu, mas os senhores anteciparam-se a mim em alguns meses e decidiram fechar o tráfego que lhes chega de proxy's anónimos, mesmo que estes sejam americanos. Por isso, se esta era a vossa ideia em subscrever o serviço da Witopia, esqueçam.
Mas nem todos os sites têm uma política (cada vez mais) restritiva como o Hulu, e assim lá acabei por ver o meu esforço financeiro e mental compensado. Acedendo ao site oficial do Colbert Report, consegui o que já não tinha desde o início de 2009: um episódio inteirinho!


É claro que a coisa não é a mesma que antes. O facto de estarmos a desviar o tráfego para um proxy faz com que o streaming não seja tão rápido como era antes de nos fecharem as fronteiras, o que provoca algum buffering irritante, especialmente se estivermos a ver o episódio de ontem. Mas compensa. Ah pois compensa!
No entanto a minha maior surpresa viria do site da ABC, onde pude assistir a um episódio da nova temporada de Scrubs.


Vamos ver como se comporta este site quando começar a última temporada de Lost...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Spread (Título em Portugal: "Playboy Americano"... urrgh)





Classificação: 6,5 Espigas (em 10)

Positivo - Uma versão "the naughties" (agora que cada vez mais se usa este termo) do livro "Menos que Zero", escrito por um dos meus autores favoritos, Bret Easton Ellis. O filme propriamente dito não tem nada a ver com o livro. Trata-se de uma comparação que me ocorreu a mim. Mas algumas das ideias base do romance - o cenário (Los Angeles), o hedonismo, a luxúria escandalosa, o sexo pelo sexo, a frivolidade - está tudo lá.

Negativo - Ok... faltam as drogas para ser mais parecido que "Menos que Zero", e talvez ser menos politicamente correcto no que diz respeito às atitudes de algumas personagens. Além disso, tem como protagonista o inenarrável Ashton Kutcher, o que até pode não ser mau de todo... talvez a vida dele tenha sido um pouco do que se passa na história do protagonista.
Dadas as magníficas notícias deste princípio de ano, esta é a banda sonora para Janeiro:



Soundgarden - "Black Hole Sun" - Álbum "Superunknown" (1994)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A Minha Lista

Passado 2009 (e já agora, aqui fica o meu desejo de um prometedor 2010 a todos), eis então a minha lista de melhores filmes estreados em Portugal durante o ano que passou:

1 - The Hurt Locker
2 - Inglorious Basterds
3 -  Let The Right One In
4 - The Curious Case of Benjamin Button
5 - Revolutionary Road
6 - Watchmen
7 - District 9
8 - Slumdog Millionaire 
9 - Star Trek
10 - Public Enemies



Finalmente, algumas notas: a lista, apesar de numerada, não representa propriamente um "top". É muito difícil para mim colocar estes filmes por uma ordem concreta, visto que gostei de todos quase por igual. Além disso, este ano foi para mim algo "anorético" em visualizações. Não vi, por exemplo, As Praias de Agnés, Milk ou A Mulher Sem Cabeça, filmes que pelo que li, e pela admiração que nutro pelos realizadores, provavelmente poderiam estar na lista.