domingo, 31 de janeiro de 2010

The Road

 
Classificação: 8,5 Espigas (em 10)

Positivo -Excelente adaptação do livro (também excelente) de Cormac McCarthy; Uma fotografia a condizer com o teatro pós-apocalíptico; a interpretação sublime (não só pelo desafio físico) de um actor, Viggo Mortensen, que já merecia uma nomeação aos Oscars; a química muito bem conseguida entre pai e filho, afinal o tema principal do livro, graças ao bom casting do miúdo Kodi Smit-McPhee; o filme é um autêntico ensaio sobre a desumanização e... o amor. Parece demasiado paradoxal? Vejam o filme!.

Negativo - Algum academismo no modo de filmar, que se perdoa pelo escasso currículo do australiano John Hillcoat (que, no entanto, já dirigiu um outro bom filme: The Proposition, com argumento de Nick Cave). Não consigo deixar de imaginar o que teriam feito Alfonso Cuarón ou David Fincher (os meus dois fétiches para filmes com tendências depressivas).

sábado, 30 de janeiro de 2010

Mais uma fornada de filmes que vi nos últimos dias:

2012

 
Classificação: 5 Espigas (em 10)

Positivo -O realizador Roland Emmerich especializou-se em introduzir nos seus blockbusters, de forma ligeira e algo subliminar, mensagens políticas e de activismo social bastante construtivas. Já o fizera em "The Day After Tomorrow" - a cena da evasão da população americana para o México, com o país latino a reivindicar o perdão da dívida externa para deixar entrar a população assustada é, no mínimo, inteligente.
Voltou a fazê-lo agora, com os ricos e poderosos a ter entrada directa nas enormes arcas de salvamento através de pagamentos astronómicos que os colocam à frente da população em geral. São tudo avisos pertinentes.

Negativo -Irritam-me profundamente os filmes de acção que pretendem dar algum cariz dramático e sério à história e depois incluem cenas de acção onde as personagens gritam como se estivessem a passar pelo loop de uma montanha russa.
Se quisesse jogar um jogo de computador ligava a minha PS3. 2012 é um imenso jogo cheio de níveis do princípio ao fim. Se essa era a premissa com que deveríamos começar a ver o filme, não deveriam incluir cenas demasiado pretensiosas. Além disso a previsibilidade da história alastrou para outros aspectos. Até os efeitos especiais são previsíveis, tendo em conta a quota gigante que Emmerich já conta no seu curriculum de filmes-catástrofe. Homem, faça outra coisa na vida!
O elenco estereotipado é de uma nulidade confrangedora, John Cusack incluído (um actor que até aprecio).

---



 
Classificação: 8 Espigas (em 10)
Positivo -O timing em cheio do filme, numa época de downsizing nas empresas um pouco por todo o mundo; a forma como nos mostra com crueldade e algum humor negro a sensação de ser despedido; o trabalho não só de George Clooney, como de Anna Kendrick; a maneira brilhante como Jason Reitman filma a solidão na era moderna, com uma fotografia a condizer e alguns planos muito bonitos.

Negativo - Na recta final perde algum fôlego, apesar do twist na história. Não gostei em especial da viagem de Ryan (George Clooney) para o casamento da irmã, onde há algumas cenas demasiado lamechas e que tornam o filme um pouco meloso no seu todo. Não havia necessidade, porque até aí o equilíbrio entre comédia e drama estava perfeito.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Música para o fim de semana.



Alice in Chains - "Check My Brain", do novo álbum (e surpreendentemente bom) "Black Gives Way to Blue"
Já li "Catcher in The Rye" pelo menos cinco vezes, tanto em versão original como traduzida. É daqueles livros que me acompanham desde o princípio da minha idade adulta. Desde que, imberbe adolescente, me deixei levar pelos prazeres da beat generation. J.D. Salinger, não fazendo de forma alguma parte deste movimento, tem na minha perspectiva um lugar cativo de visitante.
"Catcher in The Rye" transpira inconformismo por todos os poros, numa perspectiva de ingénua rebelião infantil, é certo, mas de uma forma perigosamente viciante, como uma boa leitura de "On The Road" do Kerouac, com direito a visitas nocturnas pela Nova Iorque pré-beatnicks e respectiva fauna disfuncional.
A sua morte não nos deixa mais pobres, como se costuma dizer alarvemente. Salinger não escrevia nada há décadas e prezava o seu isolamento e privacidade com alguma dose de loucura e paranóia. A família decidiu (e bem) não promover sequer um serviço fúnebre, coisa que despertaria romarias de fãs e muita tinta, electrónica ou não, por esse mundo fora. O escritor vai desta forma manter o seu estilo de vida até à cova: um asceta do século XXI é por si só obra significativa para mostrar a gerações futuras.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Terminei hoje o visionamento da última semana de emissões do The Tonight Show with Conan O'Brien. E que semana! Como um dos convidados disse a determinada altura, dirigindo-se para o ruivo mais famoso da América, "you're on fire!".
Parece que a inevitabilidade do que aí vinha travestiu o Tonight Show de tal forma que as audiências aumentaram quase para o dobro, e a loucura foi de tal forma exponencial que relembrou os bons velhos tempos do Late Night. Regressaram personagens saudosas como o urso masturbador ou o cão Triumph, e as piadas voltaram a ser mais acutilantes e desprovidas de "politicamente correcto" para não ferir as pobres mentes do midwest puritano. Por várias cidades realizaram-se manifestações de apoio a Conan O'Brien, isto para não voltar a falar do movimento pró-Conan cada vez maior que se espalhou pela internet.


O que os executivos da NBC fizeram foi uma amálgama de más decisões, mas a mais grave de todas ainda está para vir. É que Conan O'Brien é o anfitrião por excelência da geração dos 20/30 anos de idade, uma fatia em que tanto Jay Leno como David Letterman pouco terão a dizer. Na minha opinião foi essa a razão principal da descida de audiências do Tonight Show durante o curto reinado de Conan O'Brien. É que muitas dessas pessoas têm actualmente outras formas de ver televisão, ou simplesmente outros media pelos quais seguem os seus programas, noticiários e documentários. A internet democratizou o visionamento de conteúdos de tal forma, que hoje pensar em timeslots publicitários como se fazia há duas décadas devia ser impensável, até mesmo um arcaísmo. Mas não é, como o provaram os inanes senhores que administram aquela que já foi a maior casa televisiva dos Estados Unidos.
Quando Conan O'Brien regressar (e acreditem que ele vai mesmo regressar, seja na FOX ou noutro canal qualquer), será para apostar num talk-show voltado para as audiências do futuro, tal como tentou fazer com o Tonight Show, onde a maturação deveria esperar não uns meros sete meses, mas dois ou três anos, até que os miúdos que agora têm os tais 20 anos de idade comecem a ficar em casa à noite para ver os seus programas, seja através da tradicional transmissão televisiva, ou ainda melhor pelos streamings de vídeo cada vez mais evoluídos e rápidos da internet, e sem o constrangimento das horas.
No ocaso do Tonight Show with Conan O'Brien passou um autêntico desfile da actual geração de comediantes americanos. Por lá estiveram Adam Sandler, Ben Stiller, Ed Helms, Steve Carell (que representou um empregado da NBC fazendo a corriqueira entrevista de saída da empresa ao empregado demissionário) e Will Ferrell, que cantou no último suspiro do programa, acompanhado de uma banda de notáveis, com o próprio Conan na guitarra (!!), Ben Harper, Beck, Billy Gibbons (dos ZZ Top) e toda a banda do Tonight Show, com Max Weinberg na bateria. Eis a despedida de Conan O'Brien, para os mais nostálgicos, com o sentimento de que o famoso "I'll be back" nunca fez tanto sentido como agora.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Para compensar a minha ausência na última semana destas lides bloguísticas, registo não uma, mas duas críticas a filmes que vi nos últimos dias. Voilá:

Where The Wild Things Are

Classificação: 7,5 Espigas (em 10)

Positivo -A forma extraordinária como a narrativa nos transporta para a mente de uma criança, com toda a sua simplicidade e ingenuidade, com destaque para os lados bom e mau, sem a afamada "grey area" que o crescimento irá inevitavelmente trazer; o decalque brilhante do quão cruel pode ser uma criança; a banda sonora de grande qualidade; a voz de Gandolfini como Carol; os bonecos e a forma como foram animados.

Negativo -Não é nem um filme para crianças, nem propriamente um filme para adultos (digamos que passa por carne com cheiro a peixe), o que poderá ser-lhe fatal no box office; numa história tão simples (é baseado num livro de Maurice Sendak) admito que seja difícil extrair uma longa metragem, mas o filme tem alguns momentos em que se nota que teve de ser esticado.

---



 
Classificação: 6 Espigas (em 10)

Positivo - A mistura bem conseguida entre um filme para audiências "fáceis", com muita tecnologia e acção a rodos, e um filme "puro Sherlock Holmes", mais ortodoxo, com inúmeras referências ao verdadeiro universo da personagem na sua base literária; Robert Downey Jr. consegue surpreender-me quando pensava que isso já não fosse possível - uma aposta arriscada mas frutífera num actor americano; Se me permitem a comparação com o mundo da banda desenhada, este filme é um exemplo do que deveria ter sido a adaptação da Liga dos Cavalheiros Extraordinários (o desastre cinematográfico que fez Sean Connery abandonar a indústria dos filmes).

Negativo - A história é demasiado previsível e repleta de gags humorísticos que desvirtuam o ambiente requerido para um filme de Sherlock Holmes; o CGI da construção da Tower Bridge pareceu-me um pouco artificial; o final foi pouco compensador, com um twist algo patético, embora surja no horizonte a sequela (garantida) com o verdadeiro grande vilão de Sherlock Holmes, o professor Moriarty.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Música para animar a semana:


Vampire Weekend - "Horchata", do novo álbum "Contra".

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010


Se há apresentador de talk-shows sem o qual eu não consigo passar é Conan O'Brien. Vejo o programa deste senhor desde 1996, através da velhinha parabólica que o prédio onde vivo mantinha com alguns canais, entre eles a NBC (Europa? Não me recordo...). Ou seja, o Late Night com o Conan tinha naquela época apenas 3 anos de longevidade. E a verdade é que, no princípio, nunca fui grande fã de Conan O'Brien, ao invés de Jay Leno, de quem sempre gostei do approach mais conservador, light e coloquial na stand-up que tradicionalmente inicia este tipo de programas.
Mas a verdade é que O'Brien cresceu muito com o passar dos anos (e Leno envelheceu mal), consolidando um estilo muito próprio de fazer comédia, muitas vezes demasiado física para alguns, ou demasiado estúpida para outros.
Eu diria que é uma comédia "nonsense", ao bom estilo Monty Python. É de um "nonsense" mais fresco, inicialmente voltado para um público mais jovem (que entretanto envelheceu, como é o meu caso), que Conan apostou após uns fracos primeiros anos de audiência nos Estados Unidos. E resultou. Não só muitos sketches do Late Night se tornaram autênticas lendas da TV (um dos meus favoritos é Triumph, o cão insultuoso e comediante, por esta ordem), como o próprio Conan se tornou uma imagem de marca. Mesmo quem não gosta concerteza reconhece a gigantesca madeixa ruiva do apresentador, que se tornou um ícone, e a dança de marioneta sem fios com que brindava os espectadores ao início de todos os programas. Esta já não a faz com tanta regularidade no Tonight Show, numa clara tentativa de agradar às audiências mais velhas do antigo programa de Jay Leno.
A NBC começou há perto de 7 meses a fazer experiências absurdas, atacando o prime time americano com um novo programa de Jay Leno, e abdicando das séries de ficção. Ora a coisa (obviamente) não resultou face à concorrência, que manteve a ficção de CSI's e companhia no mesmo horário. E o que faz agora a NBC? Para tentar não perder a sua galinha dos ovos de ouro, pretende reinstalar Jay Leno no horário do Tonight Show (que este já apresentou e é agora de Conan O'Brien), obrigando a adiar este último para um horário das 00:05, adulterando o formato e horário de um programa lendário que nunca foi alterado desde os anos 1960, altura em que o Tonight Show foi apresentado pelo lendário Johnny Carson (o programa, esse, já existia desde os anos 1950).
Conan O'Brien não gostou, e já faz saber a sua opinião publicamente. Com toda esta telenovela a NBC está prestes a perder o americano-irlandês ruivo mais famoso da televisão, e a antagonizar Jay Leno face ao público que (ainda) vê a NBC.
Para bem deles, espero que encontrem uma solução para todo este imbróglio, mas pessoalmente acho que o mal está feito, e Conan vai mesmo sair.
Pela internet corre uma vaga de apoio a Conan O'Brien, do qual destaco a imagem que apresento aqui no Espigas, criada por Mike Mitchell, e que o autor encoraja a ser usada por blogs e sites do mundo inteiro.
Como se diz na internet cloud actualmente, I'M WITH COCO!

sábado, 9 de janeiro de 2010

Invictus


Classificação: 7 Espigas (em 10)

Positivo - Um filme inspirador, não se tratasse de uma história verídica, com Morgan Freeman a representar de forma brilhante Nelson Mandela. É daqueles filmes em que o desporto é "larger than life", e de uma selecção de râguebi (os Springboks) se consegue unir toda uma nação. Numa escala mais pequena e menos dramática, faz lembrar a nossa caminhada para a final do Euro 2004. De salientar também a fotografia, que respira África por todos os poros (afinal foi mesmo filmado nos sítios onde tudo ocorreu), e o realismo com que Clint Eastwood soube apaziguar o que poderia ter sido uma tremenda xaropada. Se os nossos Lobos nos fizeram gostar mais de râguebi, este Invictus tem tudo para despertar o povo tuga para esta nobre modalidade. A que, como se diz no filme, "é um jogo de hooligans jogado por cavalheiros, ao contrário do futebol, um jogo de cavalheiros jogado por hooligans". Bingo.

Negativo - Terá sempre aquele "feeling" de filme biográfico, com tiques que estamos habituados a ver em algumas produções do género. Apesar do realismo de Eastwood (na minha opinião um ponto positivo para o filme), talvez não tivesse ficado mal imprimir mais dramatismo aqui e ali em alguns pormenores (no decorrer do jogo da final, por exemplo?), para não tornar o filme algo insípido. Mat Damon está bem caracterizado, mas é provável que um actor mais desconhecido (e menos... americano) teria sido uma mais-valia.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

E por falar em Lost, começam os teasers da última temporada desta magnífica série (para quem a segue religiosamente desde o primeiro episódio). Esta recriação da Última Ceia está... divinal! E dizem que contém várias dicas para o enredo final.

Como andava aborrecido e farto do sistema de ter de descarregar via torrent ou emule os episódios do Colbert Report, Daily Show ou Tonight Show with Conan O'Brien, decidi dar uma oportunidade aos conselhos que lera no blog do Nuno Markl há uns meses. Ou seja, gastei uns quantos euros e adquiri uma licença de um ano para usar os servidores da Witopia como proxy anónimo (através de vpn) e tentar enganar os sites americanos sobre a minha verdadeira localização. O meu alvo principal era o site Hulu, mas os senhores anteciparam-se a mim em alguns meses e decidiram fechar o tráfego que lhes chega de proxy's anónimos, mesmo que estes sejam americanos. Por isso, se esta era a vossa ideia em subscrever o serviço da Witopia, esqueçam.
Mas nem todos os sites têm uma política (cada vez mais) restritiva como o Hulu, e assim lá acabei por ver o meu esforço financeiro e mental compensado. Acedendo ao site oficial do Colbert Report, consegui o que já não tinha desde o início de 2009: um episódio inteirinho!


É claro que a coisa não é a mesma que antes. O facto de estarmos a desviar o tráfego para um proxy faz com que o streaming não seja tão rápido como era antes de nos fecharem as fronteiras, o que provoca algum buffering irritante, especialmente se estivermos a ver o episódio de ontem. Mas compensa. Ah pois compensa!
No entanto a minha maior surpresa viria do site da ABC, onde pude assistir a um episódio da nova temporada de Scrubs.


Vamos ver como se comporta este site quando começar a última temporada de Lost...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Spread (Título em Portugal: "Playboy Americano"... urrgh)





Classificação: 6,5 Espigas (em 10)

Positivo - Uma versão "the naughties" (agora que cada vez mais se usa este termo) do livro "Menos que Zero", escrito por um dos meus autores favoritos, Bret Easton Ellis. O filme propriamente dito não tem nada a ver com o livro. Trata-se de uma comparação que me ocorreu a mim. Mas algumas das ideias base do romance - o cenário (Los Angeles), o hedonismo, a luxúria escandalosa, o sexo pelo sexo, a frivolidade - está tudo lá.

Negativo - Ok... faltam as drogas para ser mais parecido que "Menos que Zero", e talvez ser menos politicamente correcto no que diz respeito às atitudes de algumas personagens. Além disso, tem como protagonista o inenarrável Ashton Kutcher, o que até pode não ser mau de todo... talvez a vida dele tenha sido um pouco do que se passa na história do protagonista.
Dadas as magníficas notícias deste princípio de ano, esta é a banda sonora para Janeiro:



Soundgarden - "Black Hole Sun" - Álbum "Superunknown" (1994)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A Minha Lista

Passado 2009 (e já agora, aqui fica o meu desejo de um prometedor 2010 a todos), eis então a minha lista de melhores filmes estreados em Portugal durante o ano que passou:

1 - The Hurt Locker
2 - Inglorious Basterds
3 -  Let The Right One In
4 - The Curious Case of Benjamin Button
5 - Revolutionary Road
6 - Watchmen
7 - District 9
8 - Slumdog Millionaire 
9 - Star Trek
10 - Public Enemies



Finalmente, algumas notas: a lista, apesar de numerada, não representa propriamente um "top". É muito difícil para mim colocar estes filmes por uma ordem concreta, visto que gostei de todos quase por igual. Além disso, este ano foi para mim algo "anorético" em visualizações. Não vi, por exemplo, As Praias de Agnés, Milk ou A Mulher Sem Cabeça, filmes que pelo que li, e pela admiração que nutro pelos realizadores, provavelmente poderiam estar na lista.