Eis alguns apontamentos sobre o ano de 2010 em relação a séries de televisão. Dispenso o mercado português, apesar de deixar uma menção honrosa para "Noite Sangrenta", da RTP.
Melhores do ano:
Boardwalk Empire (1ª temporada)
Martin Scorsese. Steve Buscemi. Terence Winter (The Sopranos). A história, passada na era da proibição (de bebidas alcoólicas) nos Estados Unidos, é um misto de ficção e eventos (e personagens) reais. Um conjunto de interpretações brilhantes e um set construído de raíz para retratar a romântica e perversa Atlantic City nas décadas de 20 e 30 do século passado. Boardwalk Empire tem tudo para fazer história em televisão. Os mais críticos dizem que mimetiza em demasia os Sopranos. E desde quando é que isso é uma coisa má?
Treme (1ª temporada)
Este foi sem dúvida o ano do ressurgimento das grandes séries no canal HBO, depois da orfandade provocada pelo final dos Sopranos e Sex and The City.
Treme é assinada por David Simon, genial criador de outra grande produção HBO, The Wire, poesia pura e triste à cidade de Baltimore, que durou cinco temporadas.
Tendo como cenário Nova Orleães, um ano após o Katrina, Treme revela a riqueza cultural de uma das cidades mais interessantes dos Estados Unidos, berço do jazz, e os problemas sociais provocados pelo furacão. No elenco estão alguns dos elementos que compunham The Wire, de que destaco Wendell Pierce, numa interpretação magnífica. As audiências não foram as melhores, mas a HBO já tinha comprado uma segunda temporada. Graças a Deus!
Dexter (5ª temporada)
Dexter caminhava para zonas demasiado ambíguas quando a personagem interpretada por Michael C.Hall se casou e teve um filho. Cheguei a temer o cansaço natural de uma produção que já atingiu a maturidade. Mas depois do monumental final da temporada passada, a quinta época só podia dar lugar a uma história com mais Dexter e menos telenovela. Foi o que aconteceu, e alguns dos episódios são dos melhores que já vi em Dexter desde o seu princípio. De destacar também os convidados, Julia Stiles e Johnny Lee Miller. Venha a sexta época!
Blue Bloods (1ª temporada)
Uma agradável surpresa. É mais uma série de polícias em Nova Iorque, sim. Tem imensos clichés, os mesmos procedimentos criminais que já vimos em tantas outras séries. Mas o elenco e a narrativa com qualidade (fechada por episódio, embora com algumas tramas que continuam ao longo da temporada) prometem uma vida longa para uma série que despertou das cinzas o actor Tom Selleck, e deu um papel de relevo a Donnie Wahlberg, irmão de Mark.
The Walking Dead (1ª temporada)
Embora só tenha merecido uns meros 6 episódios na sua temporada de estreia (que nem sequer abarcam o primeiro volume da respectiva banda desenhada em que se baseia), The Walking Dead mostrou logo no seu primeiro episódio que não é um mero "freak show" de mortos-vivos comedores de pessoas. É bem mais complexo que isso, especialmente na caracterização complexa dos sobreviventes. Frank Darabont realizou esse primeiro opus de uma forma magistral. Tão magistral que os seguintes deixaram as pessoas com um pequeno amargo de boca, a salivar por mais. Mas somos pacientes. A AMC já renovou The Walking Dead para mais uma temporada de 13 episódios. Cá estarei para os ver todos e começar a preparar o manual de sobrevivência em caso de apocalipse.
Desilusões do ano:
The Pillars of the Earth (minisérie)
Tinha tudo para ser um dos acontecimentos do ano. É a adaptação de um dos romances mais badalados da década de 90, Os Pilares da Terra, de Ken Follet. Mas o resultado é muito pobrezinho. Não o digo por mérito de ter lido os livros. Não o fiz. Mas basta ver a série para perceber que os argumentistas tentaram a todo o custo acrescentar o máximo possível de acontecimentos de um romance que é gigantesco, e que abarca várias décadas da vida das respectivas personagens. O resultado final é uma caracterização péssima (a passagem dos anos quase nunca se nota), e uma história tão básica e mal amanhada que se parece com um apanhado dos livros a fazer lembrar aqueles cadernos de apoio que os estudantes preguiçosos usam para não terem de ler a obra que o professor mandou. Os eventos seguem de uma forma tão rápida que se torna por vezes difícil entender as escolhas de vida e as emoções das personagens (amor, ódio, inveja...). Se estão interessados em ler o livro (dois, no caso da edição portuguesa), não percam tempo a ver isto. Eu arrependi-me amargamente.
The Event (1ª temporada)
Depois de FlashForward ter sido anunciado com pompa e circunstância como o grande sucessor de Lost, falhou miseravelmente. Em seguida, este The Event foi catalogado na mesma prateleira, mas está prestes a estatelar-se ao comprido. Maus actores, argumento com demasiados altos e baixos e alguma saturação neste tipo de história podem ser apontadas como as razões principais.
Undercovers (1ª temporada)
Uma nova série de JJ Abrams é sempre um acontecimento. Mas este Undercovers revelou-se uma tentativa desesperada de reclamar a herança de Alias. Erro fatal, com uma dupla pouco credível de actores e episódios com histórias patéticas, banais, que fazem Covert Affairs (outra risível série de espiões com Piper Perabo) parecer um Jason Bourne. Um passo atrás na carreira de Abrams, que acabou por ver a série cancelada.
Weeds (5ª temporada)
O que aconteceu com aquela que já foi uma das minhas séries favoritas? Weeds devia ter terminado logo após a terceira temporada, depois de vermos o bairro suburbano de Agrestic arder. A tentativa de continuar a explorar o filão resultou num beco sem saída para a família Botwin. E Andy, a grande personagem explorada de forma irrepreensível pelo actor Justin Kirk, perdeu todo o seu protagonismo. Vai haver uma temporada 6. Valha-me Deus!
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